segunda-feira, 29 de junho de 2020

Livet som det ser ut idag

Acordei no meio do sono com o barulho da chuva. Chovia muito, e o cheiro da terra molhada do parquinho abaixo do meu prédio entrava pela janela aberta. Levou-me ao passado. Fazia tempo que eu não experienciava uma chuva assim. Em meio ao deleite do clima alternei entre flashs de sonhos intensos (provavelmente efeito do withdrawal da maconha) e momentos em que eu acordei pra checar a hora. Tinha de me encontrar com um amigo brasileiro que sairia da Suécia em breve, pra nos despedir. Levantei-me quando deu, conversei rapidamente com meu Fede querido pelo computador e dei uma voltinha no meu skate novo. Comecei a suar rápido, mas me surpreendeu como íntimo eu já me sinto com meu novo brinquedo. Que bom que eu ouvi minha intuicão e o comprei, como sempre. Arrumei-me rapidinho e já parti ao encontro do meu amigo, que já me esperava em Kungsträdgården, como a cada vez que nos vimos. E o alívio de falar minha língua materna... Dos confortos que tomamos por granted, não é? Mas eu sei que é mera questão de contraste. Falar português só é especial enquanto parecer algo raro. Talvez seja melhor que seja assim, então, algo reservado a momentos especiais, e não mundano. Gosto de sentir que minha língua materna é especial.

Papo vai, papo vem, amigo estressado e ansioso com seu vôo cancelado, e eu que me divirto com a luminosidade do ambiente, as cores de tudo ao redor, e o vigor do meu próprio corpo. Acabamos por comer em um fastfood, algo simples e prático, mas não menos cozy. Ele disse que viado precisa de viado. É bem verdade, ao que parece. De lá atravessamos Gamla e eu comprei um celular novo, porém usado, em Mariatorget. Bom negócio, e helt på svenska, asså, fan vad duktig jag är, jag måste ändå erkänna! Hur som, de volta em casa não demora até que eu saia de novo de skate rumo à casa da minha amiga. Damos um pito na varanda e trocamos intimidades, como já é nosso costume. Deixo-a brincar um pouco com meu skate, o que ela parece curtir, e vamos pra academia juntos. Treino tranquilo e divertido, sem o menor traco de atrito. Gosto da companhia dela, é tão fluida. Somos espantosamente parecidos. Que bom! De volta à sua casa nos preparo jantar improvizado com o que tinha disponível, que ela vocalmente aprova, e lá fomos nós de novo tomar chá e f1 na varanda decorada pelo degradê pêssego-flamingo do pôr-do-sol estival sueco. Nossas mentes fluem e confluem em pelo menos 4 línguas diferentes, e a eficiência da nossa comunicacão é rara. Feels good. Concordamos que tempos incríveis nos esperam à frente e que merecemos sermos felizes, agora. Permiti-me sentir-me incondicionalmente aceite e presente. Sabor curiosamente familiar de saúde na boca. Está tudo bem e vai tudo continuar a dar certo de agora em diante, como nós sempre soubemos.